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6 dias de trabalho, 1 de descanso. Essa escala é justa?

  • Raiane Oliveira
  • 25 de jul.
  • 7 min de leitura

Você já ouviu falar sobre a PEC que pretende acabar com a escala de trabalho 6x1? Sabe quais são os impactos que essa jornada causa no trabalhador? E sobre o plebiscito popular, já ouviu falar? À primeira vista, esses assuntos podem parecer extremamente distintos, mas carregam uma luta comum: a defesa dos direitos e da dignidade da classe trabalhadora no Brasil. 


Neste post, vamos explicar e desmistificar os principais aspectos dessa discussão no cenário brasileiro. 


O que é a escala 6x1 e como ela funciona?


A escala de trabalho 6x1, prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (a famosa CLT), é uma jornada em que o colaborador trabalha durante seis dias consecutivos e tem direito a uma folga semanal. Trata-se de uma escala criada especialmente para atender às demandas das indústrias e às necessidades econômicas.  


Esse modelo é compatível com nossas leis atuais e está em vigor desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Segundo o texto constitucional, a jornada de trabalho semanal pode ser de até 44 horas, com a possibilidade do acréscimo de até 2 horas por dia, mediante acordo trabalhista. 


Apesar de a folga poder ocorrer em qualquer dia da semana, a legislação brasileira exige que o trabalhador descanse pelo menos um domingo a cada sete semanas. Essa exigência se aplica a pessoas que trabalham em áreas como o comércio, onde há alta demanda nos finais de semana. A medida visa, principalmente, manter a operação eficiente dos estabelecimentos comerciais. 


Nas empresas, esse tipo de jornada contribui principalmente para a distribuição da força de trabalho, garantindo o não interrompimento das operações. 


Para os trabalhadores, embora esse modelo ofereça uma oportunidade de descanso regular, ele também impõe diversos desafios à manutenção do equilíbrio entre vida profissional e pessoal. 


A jornada que adoece: impactos da escala 6x1 na vida do trabalhador 


A ampla discussão sobre essa pauta é de grande importância para os trabalhadores, pois está diretamente ligada à qualidade de vida. Não podemos esquecer que esse tema vem sendo debatido desde a Revolução Industrial, quando as jornadas chegavam a 12 horas ou mais por dia, sem qualquer descanso semanal. 


Ao longo do tempo, movimentos sociais de trabalhadores conquistaram a redução para 8 horas diárias, com algumas variações nas folgas semanais. Apesar desse avanço significativo, ainda observamos como as jornadas de trabalho continuam interferindo negativamente na vida dos trabalhadores. 


  • Impactos Físicos 


Uma consequência física muito comum em trabalhadores que seguem a escala 6x1 é a privação de sono. Para que nosso corpo se recupere de uma jornada exaustiva, é necessário a reserva de tempo para o descanso. Com apenas um dia de folga na semana, algumas pessoas podem acabar sacrificando o sono, o que pode causar outros problemas de saúde, como aumento do risco de doenças cardiovasculares e hipertensão, distúrbios hormonais, diminuição da imunidade e dores musculares e dores nas articulações.


Esses problemas de saúde acumulam o cansaço no corpo, resultando em exaustão física. Isso ocorre devido à pouca recuperação do organismo, que não possui tempo para se regenerar adequadamente e repor as energias necessárias para a manutenção de um corpo saudável. Alguns profissionais apontam que esse desgaste físico pode levar à diminuição na produtividade e a um aumento considerável da chance de erros no trabalho, o que gera estresse e, dependendo da função, pode até resultar em acidente de trabalho. 




  •   Impactos Psicológicos 


A intensa jornada de trabalho e a constante pressão para manter a produtividade em alta, no caso da escala 6x1, por seis dias consecutivos, podem gerar uma carga enorme de estresse. Diante desse estresse contínuo, o trabalhador pode começar a se sentir mais ansioso, gerando sintomas como dificuldade de concentração, sentimento de sobrecarga, incapacidade de relaxar e preocupações excessivas.  

 

Esses problemas, combinados com a falta de lazer, podem resultar também em isolamento social e solidão, já que com a rotina apertada, o trabalhador utiliza o tempo livre apenas para descansar o corpo, sem dedicar-se à socialização ou a outras atividades que promovam o bem-estar. Além disso, a falta de tempo para estudar ou se especializar em alguma área desejado pode gerar falta de motivação, sentimentos de desesperança ou baixa autoestima.


Por fim, temos a síndrome de burnout, que se refere ao esgotamento profissional, relacionada ao trabalho excessivo e a falta de descanso. Pessoas que trabalham na escala 6x1 apresentam um grande risco de desenvolver essa condição, que se manifesta por meio do cansaço extremo, sentimentos de frustrações, desinteresse e até mesmo dificuldade em manter relacionamentos interpessoais


  • Impacto Social e Familiar


Ao mesmo tempo em que a jornada pode causar esses problemas físicos e psicológicos nos indivíduos, ela também pode afetar a vida social e familiar dos trabalhadores. 


Com apenas um dia de descanso na semana, as suas interações fora do trabalho ficam limitadas, o que pode causar distanciamento de amigos ou familiares. Isso contribui para o isolamento social e, principalmente, para a perda do apoio emocional dos trabalhadores. 


Além disso, pode ocorrer também uma maior dificuldade em manter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o que geralmente contribui para conflitos familiares, já que o trabalhador tem dificuldade em conciliar esses dois aspectos da vida adequadamente. 


Quem mais sofre com essa escala?


A resposta para essa pergunta é simples: a população pobre do país, que sem alternativas de melhores empregos, se apega às oportunidades disponíveis, mesmo que isso signifique abrir mão do próprio bem-estar.


Além disso, um recorte de gênero se torna essencial para analisarmos a escala 6x1. Grande parte das mulheres brasileiras, além de trabalharem 40 horas semanais, dedica cerca de 21,3 horas ao trabalho doméstico não remunerado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados em 2022.


As mulheres inseridas no mercado de trabalho sofrem sobrecargas adicionais ao acumularem também os afazeres domésticos. Além disso, enfrentam desigualdades salariais, recebendo menos que os homens mesmo quando exercem as mesmas funções. 


Explicação breve da PEC que pretende acabar com a escala 6x1


A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) criada pela deputada Erika Hilton propõe mudanças significativas na jornada de trabalho no Brasil, especialmente para acabar com a escala 6x1. 


De acordo com a proposta, a jornada de trabalho deve ser estabelecida da seguinte forma: 


  • Não poderá ultrapassar 36 horas semanais;

  • Não poderá ser superior a 8 horas diárias; 

  • Será cumprida em apenas 4 dias semanais.


A deputada afirma que “A alteração proposta à Constituição Federal reflete um movimento global em direção a modelos de trabalho mais flexíveis aos trabalhadores, reconhecendo a necessidade de adaptação às novas realidade do mercado de trabalho e às demandas por melhor qualidade de vida dos trabalhadores e de seus familiares.” 


O principal objetivo da PEC é promover mais qualidade de vida, saúde e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, reduzindo os impactos negativos das longas jornadas.  

O que é o Plebiscito Popular e como vai funcionar no debate sobre a escala 6x1?


Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os plebiscitos são consultas populares em formato de votação, organizadas por entidades da sociedade civil, para que a população decida sobre temas importantes de natureza constitucional, legislativa e administrativa. No caso do Plebiscito Popular de 2025, as entidades que compõem as Frentes Brasil Popular e o Povo Sem Medo, além da CUT (Central Única dos Trabalhadores) estão à frente da mobilização para ouvir a opinião do povo brasileiro. 


Além da discussão sobre o fim da escala 6x1, outra pauta importante do plebiscito é o fim da cobrança do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) para quem recebe até R$ 5.000 por mês – medida que poderá beneficiar cerca de 20 milhões de brasileiros. Essa proposta também fortalece a justiça tributária, já que os que ganham menos pagariam menos, e os que ganham mais que esse valor contribuiriam proporcionalmente mais. 


O Plebiscito Popular deste ano quer ouvir o que a população tem a dizer sobre essas duas discussões que vêm ganhando destaque nas últimas semanas. 


  • Você é a favor da redução da jornada de trabalho, sem redução salarial e do fim da escala 6x1?

  • Você é a favor de que quem ganha mais de R$ 50 mil por mês pague mais Imposto de Renda para que quem recebe até R$ 5 mil por mês não pague?


Por que votar? O poder da ação coletiva na luta por direitos 


É muito importante que a população se una para pressionar o parlamento brasileiro, que segundo o secretário nacional de Mobilização e Relação com Movimentos Sociais da CUT, Milton dos Santos Rezende, está se estabelecendo como um “espaço de bloqueio das mudanças populares mais básicas”. 


Não podemos esquecer que o Plebiscito Popular também é utilizado como forma de pressão política e denúncia, apontando diretamente as disparidades socioeconômicas entre as classes sociais. Mas, principalmente, mostra que existe uma grande parte do Brasil que quer mudar esse cenário e que está disposta a fazer o necessário para transformar a realidade e atenuar as desigualdades latentes. 


A luta popular pelos nossos direitos e nossa dignidade é a voz coletiva que rompe o silêncio do nosso cansaço. A mudança acontece agora!


A votação acontece entre o dia 1° de julho até setembro de 2025, e qualquer pessoa pode votar e se voluntariar para a coleta dos votos. As urnas estarão localizadas em diversos pontos de circulação pública no país, como sindicatos, igrejas, praças, terminais de transportes, escolas, locais de trabalho, entre outros. 


Informações gerais


Para saber onde votar no seu estado, a organização do Plebiscito Popular 2025 disponibilizou uma planilha com os locais e horários. Acesse o link: https://docs.google.com/spreadsheets/d/189cJXgV-tNwCoGoDk6bxqIrUCOi4o8a4i-jIxZQ9L08/edit?gid=1133048724#gid=1133048724 


A votação online já começou! Participe pelo site oficial do Plebiscito Popular 2025: https://plebiscitopopular.org.br/ 


Para informações em tempo real, aconselhamos o acompanhamento das redes de comunicação do Plebiscito:













Referências Bibliográficas: 


PERES, Camila. Escala 6x1: o que é, como funciona e os impactos para trabalhadores e empresas. Disponível em: <https://www.gupy.io/blog/escala-6x1> Acesso em: 13 de julho, 2025.


Como a escala 6x1 afeta o corpo e a mente dos trabalhadores. Disponível em: <https://draanabeatriz.com.br/como-a-escala-6x1-afeta-o-corpo-e-a-mente-dos-trabalhadores/> Acesso em: 14 de julho, 2025.


O que é a escala 6x1 e qual seu impacto socioeconômico no Brasil? - UNIFOR. Disponível em <https://unifor.br/-/o-que-e-a-escala-6x1-e-qual-seu-impacto-socioeconomico-no-brasil> Acesso em: 14 de julho, 2025.


O peso da escala 6x1 na vida e na saúde das trabalhadoras - Colab PUC Minas. Disponível em:<https://blogfca.pucminas.br/colab/o-peso-da-escala-6x1-na-vida-e-na-saude-das-trabalhadoras/> Acesso em: 14 de julho, 2025.


Entenda o que é o Plebiscito Popular 2025 e vote em defesa da classe trabalhadora! Disponível em: <https://cpers.com.br/entenda-o-que-e-o-plebiscito-popular-2025-e-vote-em-defesa-da-classe-trabalhadora/> Acesso em: 14 de julho, 2025. 


Escala 6x1: Veja locais para votar no Plebiscito Popular. Disponível em: <https://tvtnews.com.br/escala-6x1-votacao-presencial-plebiscito-popular/> Acesso em: 15 de julho, 2025. 


Plebiscito Popular em 2025 mobiliza o país pelo fim da escala 6x1. Disponível em: <https://www.cut.org.br/noticias/plebiscito-popular-2025-mobiliza-o-pais-pelo-fim-da-escala-6x1-58e4> Acesso em: 16 de julho, 2025. 


Fim da escala 6x1: o que diz a proposta de emenda constitucional? Disponível em: <https://cj.estrategia.com/portal/fim-escala-proposta-emenda-constitucional/> Acesso em: 16 de julho, 2025.

 
 
 

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2 Comments


Giovanna Queiroz
Giovanna Queiroz
Jul 26

Concordo plenamente com o texto e acho que ele toca em um ponto fundamental que muita gente prefere ignorar: trabalhar seis dias para descansar apenas um não é só desgastante, é injusto. Essa rotina consome a saúde física, abala o emocional e rouba o tempo que as pessoas deveriam ter para a família, para o lazer, para estudar ou simplesmente para descansar de verdade. O trabalho é importante, claro, mas não pode ser a única coisa que define a vida de alguém. O que o texto propõe é mais do que justo: repensar a forma como organizamos o tempo, questionar se essa escala faz sentido nos dias de hoje e buscar alternativas que priorizem o ser humano, não apenas a…

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alessandracastro.cm
Jul 26

Nós vivemos pelo trabalho (e no trabalho), e nos tiram a liberdade de viver a vida com os nossos. Muito importante essa publicação. Precisamos votar e mudar essa realidade.

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